quinta-feira, 6 de julho de 2017

NOSSO MUNDO HOJE E VOCÊ

Quase todos concordam que a evolução da sociedade humana em geral, salvo talvez umas poucas exceções, ocorreu em meio a um significativo abrandamento dos costumes. De fato, as normas sociais concernentes à conduta sofreram forte atenuação, até mesmo nos aspectos mais superficiais como, por exemplo, o uso de gírias ao cumprimentar amigos ou desconhecidos. O ideal de liberdade, de discernimento sobre o que é certo e errado sem preocupações moralistas, levou o homem não só à aceitação mas ao exercício exagerado dessa liberdade, muitas vezes ao olvido da contraparte inevitável que dela advém. Como diz a antiga sabedoria popular “quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”. É uma maneira jocosa de expressar uma grande verdade.

Se, por um lado, era impossível a continuidade de um mesmo padrão cultural no bojo das agudas modificações que a humanidade experimentou, por outro lado o livre-pensar conquistado parece ter causado uma quebra essencialmente descriteriosa dos padrões vigentes há algumas décadas. 

Só agora começa a se formar um certo consenso sobre isso. O mundo perdeu os excessos do recato vitoriano, mas perdeu também o senso de equilíbrio nessa seara e passou, e muito, dos limites que o bom-senso estipula. O ser humano vem se lambuzando em sua liberdade há pelo menos quatro décadas. Com extremos em vários momentos.

Os pais das primeiras gerações dessa era de liberdade sem critérios ficaram atônitos. Viam nos filhos um comportamento que seria considerado desprezível em seu tempo. O velho e conhecido “conflito de gerações” foi elevado à categoria de “incompatibilidade absoluta”. O conhecimento dos mais velhos, conseqüentemente a tradição dos povos, foi relegado aos estritos limites do conceito de “obsoleto”.

Curiosamente, os extremados jovens dessas primeiras gerações de liberdade plena também envelheceram. Devem ter se surpreendido com isso. Tiveram seus filhos e estes cresceram. O apego à liberdade herdada mais ainda se acentuou, mas, para a estranheza geral, o conflito de gerações continuou existindo. Mais e mais liberdade foi exigida e, tão logo vislumbrada, plenamente exercida pelos jovens. 

O caráter “velho” continuou existindo basicamente porque, como é comum acontecer, uma liberdade conquistada pela geração anterior é vista como algo mítico, romântico, fantasioso, que merece ser revisto e ampliado sem aquele colorido ultrapassado. Quem não se lembra (salvo os muito jovens, é claro) do tom majestoso com que a Era de Aquário foi adiantada pelos espetáculos e musicais da década de sessenta? As drogas eram consumidas e, desde aquele tempo, sempre foram absolutamente perniciosas. Mas, ainda que totalmente perniciosas, eram consumidas sob ideais pueris como a construção de sociedades alternativas, o amor livre, paz e amor, e coisas que tais.

O matiz grandioso da liberdade, sob roupagem até poética, rapidamente degenerou-se, vertiginosamente, no mesmo passo em que as drogas exibiram sua face real, degradando o pouco de razoável que havia nos ideais tresloucados da geração “sexo, drogas e rock’n’roll”. Foi desalentadora a forma como os vovôs hippies viram seus pupilos imergirem numa sociedade fria, calculista, absurdamente competitiva e essencialmente amoral. Analogamente ao ensinamento da Ciência Política, que aponta o risco sempre presente da degenerescência da aristocracia para meras oligarquias, o uso irresponsável da liberdade levou ao surgimento de padrões culturais em que a violência e a desonestidade são vistas como componentes, se não normais, ao menos comuns do cenário humano. 

Se antes valores como honestidade e cortesia compunham o mínimo exigido de qualquer cidadão, passaram a ser virtudes quase meramente idealizadas de um sonho a ser conquistado, quem sabe, um dia. É comum vermos um homem público ser elogiado veementemente por ter-se mantido honesto no exercício de seus cometimentos. A regra tornou-se exceção, tanto quanto inverteu-se a predominância. Já houve um tempo, longo diga-se, em que a honestidade e a moral eram a regra a seguir-se, mesmo já tendo o mundo as velhas mazelas da imperfeição humana.

Jamais estivemos em um planeta sem corrupção do homem. No entanto, já no lar as crianças passaram a ser educadas seguindo a desarmonia reinante no dia-a-dia além dos muros.

Felizmente, e é por isso que este texto veio a ser escrito, notam-se sinais de recuperação de vários valores aprisionados nas masmorras da liberdade irresponsável. A Harmonia que a tudo permeia, dirige e sustenta, insinua-se no aparente caos reinante confirmando a noção antiqüíssima de que só existe caos quando os limites da observação são muito estreitos. A mais recente geração de jovens vem mostrando que a humanidade evolui e que, a despeito de algumas febres e desatinos, tão-somente experimenta a aceleração brusca do ritmo de aperfeiçoamento que desde a segunda metade do século passado vem se estabelecendo.

Este texto não se atém a quesitos religiosos. Ainda assim arrisca-se a assumir que as sementes e as sujidades estão lançados ao ar, devendo os ventos da renovação afastar o que não mais deva continuar. 

Ainda existem drogas sendo consumidas em quantidades assustadoras pela juventude. Não obstante, já no meio juvenil despontam punhos cerrados em combate a essa mácula do ente humano. São ainda poucos. Mas há pouco tempo eram praticamente inexistentes. O cigarro não é mais visto como algo “bacana”, tanto quanto esse termo já nem é mais usado. Os excessos com o álcool ainda preocupam por começarem muito cedo; todavia, a sociedade já firmou consigo a idéia de que a bebida não deixa ninguém interessante.

O ideal de honestidade retorna à consideração do jovem. Aqui os avanços são difíceis porque o desencanto e a noção de que “tudo é assim mesmo” ainda persiste. Contudo, caminhamos para adoção de escolhas menos insensatas no contexto político, sem a auto-corrupção de opções falsamente sedutoras.

Mas não tenhamos ilusões. O mundo é hoje exatamente o que fizemos dele. Nossos filhos, nós, nossos pais e nossos avós. Creio que é a hora de contribuirmos para a retomada de mais e mais valores indevidamente anestesiados.

Seja gentil. Sorria. Use palavras amenas. Ofereça sua atenção quando alguém lhe dirigir a palavra. É claro que muitos de nós já faz isso. Mas sigamos além. Sejamos exemplos para olhos pequenos de mentes em formação, em nossa casa e na rua.

Tenhamos um esforço a mais. 

Diminuamos por nossa conta e risco o ritmo alucinado do mundo. Façamos as coisas com menos pressa. Não apenas olhemos por onde andamos, como também prestemos atenção no que está à nossa volta. Procuremos ouvir músicas relaxantes. Retomemos o gosto (talvez não seu, mas de seus antepassados) pelas coisas simples da vida. 

Quando você sorrir, faça-o com o coração. Olhe as pessoas nos olhos e não se apresse em demonstrar que entendeu o que está sendo dito. Em muitos momentos, ponha-se no lugar da pessoa que lhe fala ou de quem falam. Diminua o rigor com que cogita da culpa alheia.

Estabeleça um pequeno ritual para sua vida.

No final de cada dia olhe-se em um espelho. Fixe os seus próprios olhos. Fique um pouquinho assim. Diga para si mesmo, alto ou em seu pensamento: “eu me perdôo pelos meus erros e perdôo os que erraram comigo”. Com o tempo essa afirmação será cada vez mais significativa em seu coração. Será mais e mais verdadeira. Vença o senso de absurdo que esse ritual costuma trazer a quem está embriagado pela objetividade fria que hoje está em plena vigência.

Faça mesmo, de verdade.

Ninguém vai se tornar anjo ou ingressar em nenhuma irmandade secreta por causa disso. Você não será declarado “iniciado” em nenhuma ordem esotérica. 

Mas vai se tornar uma pessoa mais serena. 

Ninguém consegue atingir a Serenidade sem ter o coração em paz. Exatamente por não podemos fazer desaparecer tudo o que nos desagrada, é imprescindível que reconheçamos os nossos erros e nos perdoemos, única forma de perdoar legitimamente os que erraram conosco.

Você vai ganhar Paz e Serenidade. Vai viver com mais leveza. Vai ajudar os que estão cuidando de mudar este mundo, contribuindo com sua parcela de exemplo para os pequenos e de apoio para os demais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário