terça-feira, 4 de julho de 2017

FALSOS AMIGOS

Othello, de Shakespeare... Uma obra que deveria ser leitura obrigatória em todas as escolas. Mais, hoje em dia deveria ser obrigatório tanto ler a obra como assistir às produções cinematográficas que existem. A produção com Laurence Fishburne, Irène Jacob e Kenneth Branagh, além de relativamente recente, é muito boa.

Enfim, as pessoas deveriam estar atentas para a tragédia que Shakespeare concebeu. Fundamentada no envenenamento da alma de um pessoa por sugestões dissimuladas e constantes, meticulosamente inoculadas dia após dia, o desfecho é mesmo trágico. Evidencia como a alma humana, se descuidada, pode se deixar levar pela maldade de quem nos parece um grande amigo.

Há quem acredite que as obras de Shakespeare advêm, na verdade, da pena de Francis Bacon. Não sei se é assim, mas, observando o teor altamente instrutivo que Othello tem para a experiência humana diante da Vida, acredito que bem pode ser mesmo fruto do brilhantismo inexcedível de Bacon.

Tomemos cuidado... Muito cuidado... Mesmo em relação àqueles que elegemos nossos melhores amigos, devemos manter sempre ativo o senso crítico, o filtro fino da análise temperada e serena acerca de tudo o que nos venha como doação de amizade. 

É impressionante como muitas vezes as peças parecem se encaixar perfeitamente em um mosaico de evidências, construindo um cenário tão lógico quanto falso, inverídico, apenas imaginário. Mesmo as verdades simples de fatos isolados, se forem alinhavadas com o critério de uma maldosa elucubração, poderá levar a uma grande mentira. 

Não importa qual o motivo que embala quem envenena a alma de outrem. Emulação, inveja, despeito, desencanto, ou simplesmente o prazer de infligir sofrimento nos semelhantes. São pessoas que trazem sua própria alma sob o efeito do veneno que buscam espargir. Livre e conscientemente, portanto sob total responsabilidade, agem em detrimento daquele que escolhem para atormentar, iludir, desequilibrar, envenenar enfim. Chegam ao extremo de construir para si mesmos todo um sofisma de falsas justificativas, não-raro invocando a vontade de Deus... Quando a máscara lhes cai e a verdadeira face se desnuda, comumente irrompem em choro e dor intensa, quase chegando a crer que são eles próprios as vítimas de uma circunstância injusta da vida.

Mas, tenhamos bom-senso. O único antídoto para o eventual veneno que nos venha sendo aplicado é a Paz e a Serenidade com que devemos sempre meditar acerca dos fatos da vida, de preferência a cada dia vivido. Evitemos sempre tomar decisões por impulso. Até porque efetivamente um Grande Amigo pode mesmo estar nos doando uma sincera e preciosíssima dádiva de confiança. Saibamos, pois, discernir o Amigo, com “A” maiúsculo, do falso amigo, verdadeiro inimigo infiltrado em nosso convívio como instrumento trevoso da maldade humana.

A noite é boa conselheira. Medite. Peça a ajuda do Pai Eterno. Permita-se errar apenas e tão-somente de boa-fé, depois da Serenidade ter buscado iluminar o seu espírito até o limite máximo de sua capacidade de absorver a Verdade que a Vida sempre nos exala.