quinta-feira, 6 de julho de 2017

POBRES EM ESPÍRITO

Bem-aventurados os pobres em espírito! De fato, quem possui e não é possuído tem a dádiva maior de possuir legitimamente, seja qual for a fortuna que venha a ter. O grande problema do apego material é o fascínio causado pelos prazeres do terra-a-terra. A riqueza material comumente exerce sobre as pessoas a sedução do prazer carnal, ainda que de desafogo sexual não se cuide. Os pobres em espírito não se sentem presos por suas posses e lançam mão dos recursos abastados para as mais variadas realizações. Movimentam dinheiro e meios para finalidades úteis, práticas, que beneficiam os semelhantes em geral. À semelhança de um corpo saudável, mantêm a circulação da riqueza como o sangue que flui para alimentar todo o sistema. Não têm medo de perder, porque, se perderem, terá sido apenas dinheiro e não a oportunidade de fazer algo edificante e solidário. Têm a responsabilidade de manter a saúde do sistema, sendo diligentes com as finanças, mas não para o contínuo crescimento da riqueza, senão para que possam continuar alimentando o próprio sistema que, se crescer, crescerá como um todo e não apenas em cofres bem guardados.

Os pobres em espírito são também aqueles que, não tendo riqueza material, mantêm-se libertos da soberba e do risco de falência com o dever de desprendimento. Se não podem liderar obras de realização coletiva, sabem-se cativos do cuidadoso carinho da Providência Divina que os mantém longe da reincidência no erro crasso da egolatria sensorial.

Tanto o rico como o miserável, desde que pobres em espírito, são felizes por não estarem algemados ao ouro. Mas assim é somente se forem pobres em espírito. Caso contrário, arderão toda uma existência.

O rico malversará seu tesouro com o custo de inumeráveis prazeres supérfluos, desperdiçando preciosas oportunidades de distribuir realização aos seus semelhantes. Ou então apegar-se-á, enlouquecido, ao ouro apenas por ser ouro. Acumulará cada vez mais, obstruindo a circulação da riqueza até que tudo o mais pereça. Será uma artéria obstruída, causando a morte do órgão que deveria alimentar. Por outro lado, o miserável embriagar-se-á em egoística revolta, julgando-se legitimado às ações ilícitas para garantir-se no pretenso direito de conquistar o que a vida não lhe deu.

Por isso tudo, ser pobre em espírito é a postura cristã que todos os homens de boa vontade devem cultivar diante dos imperativos materiais da vida.


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